domingo, 31 de julho de 2011

Sangria...

Sempre tem essas horas - justamente à noite - lembranças daquelas mais horríveis nos vêem a mente... lembrar-me de estar rodeada por outros alunos e ouvindo alguém falar “está ridícula com o cabelo curto, igual a homem” e em mim: o ódio de saber que meus pais assim o quiseram nem se quer importava o quanto aquilo me machucava, o quanto doía ouvir brincadeiras de mau gosto... isso torturava, provavelmente nunca seria tão bela como as meninas da sala; verdadeiras princesas que os pais cultivavam feito roseiras, mas que algum dia eu mudaria e bonita seria. Elas passam? Pode ser que sim, mas voltam com outras para te derrubar novamente. Fazem de mim a vítima perfeita, presa nas lembranças que machucam - como aquela que você disse que não tem como, nunca se negaria a aproveitar de um corpo ‘gostoso’ como ­­esse, mas que é só isso e nada mais...Hoje minha vontade é deformar todo o meu corpo, tirar pedacinhos de beleza de mim, um de cada vez len-ta-men-te... sentir na pele todos anos que perdi lutando por mais um rosto agradável na sociedade, desfigurá-lo. Faria isso com amor, amor esse que homem nenhum foi capaz de me dar, que a cada promessa mais uma mentira! Dizem nunca querer me magoar, e na verdade matam a minha felicidade, insistem em cada frase falsa e jura em vão. Tranquei o patinho feio por isso? E então sofri até hoje, eu mesma pagarei por cada besteira que mudei em mim, irei a todo custo voltar a me amar, irei atrás daquela minha vontade de brincar descalço e sem arrumar o cabelo, quero me sujar de terra e ficar com cara melecada de doce! Farei uma sangria, que jorre toda vaidade, não quero essas curvas muito menos esses olhos marcados de perfeição. Sim, descerei do salto e calçarei chinelos velhos e encardidos, não mais passarei horas escolhendo uma roupa nem se quem desejarei comprá-las. Torturar-me seria libertar meu corpo desse vício, não quero sempre sorrir, agora vocês enxergam? vejam o quanto o meu coração está sangrando!


“Chega de sempre estar bela eu quero essa fera...
Quero ser coisa, sapatão e bicho.
Batom, perfume, secador, brinco
Lixo, lixo, lixo...
Rainha das feias,
Dama da noite, lagarta,
Medusa, esqueça as sereias...
Não tem mais a adormecida
Não sei o que é delicadeza, beleza ou a vaidade
Levantei, lá fora à vida, a minha vida!”
 
Por Taciana lopes